A civilização não é a selva, generais.
A Polícia Federal já tem a identificação de centenas de vândalos que estavam no quebra-quebra das sedes dos três poderes. As imagens ajudaram. Boa parte nem fez questão de cobrir o rosto, pelo contrário fez lives das sedes invadidas, se orgulhando do atentado à democracia brasileira. Como uma catarse em que medos (irreais) incutidos pelas mídias e redes sociais encontrassem na destruição dos símbolos da democracia uma expiação de traumas psicológicos. Essa irracionalidade expressa pelas gangues que assaltaram o Planalto foi construída ao longo dos últimos 10 anos.
Louvados os esforços do ministro da Justiça Flávio Dino e do interventor na Segurança Pública do DF Ricardo Capelli o que se deve buscar, além de punir exemplarmente os idiotas de verde e amarelo, são os construtores, os artífices dessa Guerra Híbrida que operam o Lawfare como estratégia de conquista do poder.
O perfil político e socioeconômico dos “terroristas” (como a mídia os batizou) indica que, na média, são pessoas desprovidas de formação educacional consistente. Autônomos, operadores de máquinas, empregados do agronegócio, desocupados e alguns candidatos derrotados nas eleições. Formam uma espécie de lumpesinato digital que se instrui básica e culturalmente dentro de bolhas de aplicativos de mensagens. A ignorância não os isenta dos crimes, mas nos provoca a buscar quem são os organizadores, mandantes e financiadores e quais os intentos.
Interesses de uma sociedade passada e conservadora
Camadas de interesses das castas mais conservadoras, herdeiros do latifúndio, do garimpo se misturam com interesses de uma rede de caminhoneiros e com o que as Forças Armadas prescrevem como “solução” do país no Projeto de Nação: O Brasil em 2035 – uma bula que a professora, especialista em forças armadas e segurança internacional da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Unesp, Suzeley Kalil Mathias, descreveu em seu artigo como uma iniciativa que prima pela falta de empatia com sociedade civil, e revela desejo das Forças Armadas de se engajarem no debate político embora isso contrarie o ordenamento constitucional – em uma reportagem do Jornal da Unesp de 13/06/2022.
O repórter Renato Coelho escreveu: E
“Em linhas gerais, o documento articula propostas a serem implementadas gradualmente, sob a coordenação de um órgão especialmente criado para este fim, distribuídas por eixos temáticos de governança nacional, geopolítica mundial, desenvolvimento nacional, ciência, tecnologia e educação, saúde, segurança e defesa nacional e segurança pública.
Entre as propostas que mais suscitaram polêmicas está a de realizar a privatização do Sistema Único de Saúde (SUS) até o ano de 2025. Ou seja, num espaço de apenas três anos, a população só poderia recorrer à infraestrutura privada de serviços de saúde. Segundo os autores do texto, “o SUS consome considerável parcela do orçamento nacional” porque desde o início “sofre com precários processos de planejamento, gestão e controle, os quais dificultam sobremaneira um adequado atendimento”.
Outro ponto que gera críticas é a determinação de que “os cidadãos brasileiros, em sua maior parte, identificam-se como conservadores evolucionistas, no campo psicossocial, e liberais”, porém, “conscientes da responsabilidade social de apoiar, com políticas públicas sustentáveis, as camadas carentes da sociedade”.
Já na esfera da educação, além de também querer cobrar as mensalidades de acesso às universidades públicas, os autores falam em “currículos desideologizados”, reforçados por valores “morais, éticos e cívicos”.
Os egressos da Aman e o Partido Militar
O coronel pernambucano da reserva do Exército brasileiro Marcelo Pimentel tem frequentemente alertado no perfil do Twitter que egressos da Academia das Agulhas Negras têm intenção de levar os militares a atuarem na política.
Não é coincidência que o documento Projeto de Nação: O Brasil em 2035 foi elaborado por integrantes do Instituto General Villas Bôas. O mesmo general que tornou público a própria resistência ao novo governo Lua e afirmou “o que podemos esperar de um governo da oposição (…) destruição do civismo, ridicularizarão do patriotismo e dos símbolos nacionais, desrespeito à Constituição e apoio a ditaduras”.
Ironicamente, foram os acampados em áreas militares – com o beneplácito – do Exército que promoveram a destruição e ridicularizam os símbolos nacionais no dia 08 de janeiro.
Villas Bôas e seus áulicos precisam dar as caras para assumir ou condenar a invasão dos 3 poderes em Brasília.
Considerando que a suspeição de participação do Gabinete de Segurança Institucional, uma estrutura herdada da gestão Bolsonaro, com o general Heleno à frente, é impositivo para a defesa do Estado Democrático e de Direitos que governo Lula expurgue os desatinos que são cultivados na formação dos oficiais do Exército, especialmente, na Aman.
O Brasil não aceita mais “forças ocultas” que desde 1889 apunhalam o Poder pelas costas, à sorrelfa e à socapa. Forças camufladas na política que não assumem a interlocução e os interesses publicamente. A civilização não é a selva, generais.
Embora em suas postagens Pimentel busque mostrar que” toda discussão sobre “golpe” não é casual, mas causal – tem a finalidade de ENCOBRIR, como uma cortina de fumaça e/ou “flare”, a AÇÃO POLÍTICA de cúpulas hierárquicas das Forças Armadas na conquista e manutenção do PODER PELO VOTO!”, a ações violentas nas ruas podem levar o país a um cenário inesperado.
Todo mundo sabe como uma guerra começa, mas ninguém sabe como termina.