É preciso derrotar os irracionais sem partir-lhes o coração

As campanhas de Lula e Bolsonaro calculam o que falta para a vitória: enquanto o ex-presidente precisa de 2 milhões de votos para vencer, o atual presidente tenta conquistar 8 milhões de eleitores. Para isso, ambos saem a campo em busca de apoios. Lula ganhou apoio do PDT de Ciro Gomes, da Simone Tebet e até mesmo do PSDB. No primeiro turno, antigos adversários se somaram à Campanha de Lula, como os ex-ministros Miguel Reale Júnior e Aloysio Nunes, mas agora o PT busca apoio formal da legenda. Até mesmo o presidente do Cidadania, Roberto Freire trabalhou para que o partido declarasse apoio a Lula no segundo turno. Já Bolsonaro conseguiu o engajamento dos governadores de Minas Gerais, Paraná e Rio de Janeiro, já reeleitos. Além do Rodrigo Garcia, o candidato derrotado pelo PSDB ao governo de São Paulo.
Bolsonaro busca aplicar medidas eleitoreiras de distribuição de recursos para atingir os mais pobres na tentativa de virar votos de Lula.

A leitura do conservadorismo de extrema-direita

Com o leque de apoios definidos, ficou estreito o espaço pela ampliação das alianças de ambos os candidatos. Somos nós e eles (como sempre foi).
A campanha de Bolsonaro busca vender o candidato como “tiozão” dos mais pobres e esconder da opinião pública o apegos aos negócios que exploram o meio ambiente (e a vontade canibal de comer carne humana), como o garimpo em terras indígenas e as agressões contra ecoativistas, ambientalistas. A campanha de Bolsonaro também busca vacinar a opinião pública contra a imagem de genocida que se formou pelo estrago que a gestão dele fez durante a pandemia da Covid-19.

A estratégia do PT pretende rastrear os eleitores que historicamente nunca foram simpáticos ao partido, mas que também têm resistência a Bolsonaro. O crucial dessa estratégia é trazer novos partidos para aliança, de outros campos políticos. Dos dez partidos que compõem a aliança atual, só Solidariedade, Pros, Avante e Agir não são de esquerda ou centro-esquerda.
Nesse contexto, vozes de articulistas como Vera Magalhães ou Carlos Alberto Sardenberg – da velha mídia – pressionam Lula para que barganhe posições de programa na política econômica a fim de se habilitar ao apoio eleitoral de outros setores. “Lula precisa dizer ao mercado o que vai fazer com equilíbrio fiscal etc…”

Apelo da velha mídia é pura cortina de fumaça

Quando Lula convidou Meirelles, trouxe Alckmin, se reuniu com empresários e se comprometeu com o mandato de Campos Neto, no Banco Central, ficou evidente que a margem para manobras radicais na economia desapareceu. A condução da política econômica de modo geral, do ponto de vista fiscal, não será alterada. Também não seria o comprometimento com a agenda de reformas da mídia que traria novos convertidos ao voto em Lula. Não é nada disso. Embora o pensamento racional sugira que compromissos com o liberalismo amplie as alianças à direita, infelizmente, o movimento não se converterá em novos votos.

A presença do irracional na campanha eleitoral

Há, basicamente, dois tipos de eleitores entre os bolsonaristas: um punhado de escolarizados da classe alta e média alta que se regem pelo puro interesse econômico e ideológico e aqueles outros quem trafegam no terreno do irracional.
Para atrair os eleitores do irracionalismo, Lula terá que transitar no pantanoso terreno dos Costumes e das Crenças.
É ali que estão posicionados majoritariamente seguidores pobres do bolsonarismo. E não é uma tarefa fácil. Por dezenas de anos, eles foram alimentados com a propaganda que o ideário da esquerda “vai fechar igrejas” porque é ateia; que “cria baderna” porque promove atos públicos e greves por direitos; que “protege bandidos” porque é a favor dos direitos humanos; que “defende traficantes” porque é contra a ineficaz política de guerra contra as drogas; que “mata fetos” porque defende o direito de aborto quando a gravidez é forçada, indesejada ou de risco; que “invade propriedades” porque é a favor da utilidade pública dos bens abandonados; que quer “ideologia de gênero” porque enxerga a necessidade a educação sexual.

O irracional versus o racional

A erupção de dois mundos distintos está em pleno curso. O bolsonarismo – impulsionado pelo conservadorismo dos super ricos, que se auto proclamaram como a Nova Direita mundial – não tem pudor em explorar a ignorância das pessoas com pouco ou nenhum conhecimento. Não é

à toa que Paulo Guedes combate o acesso universal às Universidades e o ensino público, de modo geral. Diferentemente da fala preconceituosa de Bolsonaro, os esclarecidos não votam nele.
Durante muitos anos a falta de acesso ao conhecimento tornou milhões de brasileiros reféns da ignorância e à mercê de charlatães de toda sorte. Os mercadores da fé nadam com toda desenvoltura neste ambiente em que a razão virou terra arrasada. Os fenômenos químicos e físicos não só são ignorados por multidões, como são desacreditados. O negacionismo ganhou terra fértil. Com limites curtos em exercícios de abstração, a população desassistida vive apenas a experiência do concreto e do empírico – que são insuficientes para explicar a complexidade que o mundo atravessa, na atual quadra histórica, com a revolução tecnológica.

A distância entre o que sabemos e o que eles deveriam saber

Entre o liberalismo e a barbárie

Lula tem uma chance de ganhar, mas a campanha será renhida num campo de paixões irracionais. A composição do Congresso obrigará o eventual governo a afrouxar mudanças em nome da governabilidade. O que poderia ser um governo de transição para reestabelecer as instituições democráticas corre o risco de vir a ser um governo de resistência das instituições liberais capitalistas.
Mais uma vez, o guichê das transformações profundas que precisamos estará fechado. O que nos deixa uma lição importante: o trabalho de formação política-ideológica não pode ser abandonado sob hipótese nenhuma. A ignorância, antes um patrimônio dos senhores de escravos, hoje se transformou em um ativo dos canalhas. O povo não pode ficar à mercê deles.

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