Ricos e classe-média não cabem, mas como um fã clube, eles estão hipnotizados pela causa dos bilionários.
Tudo já foi dito sobre os fascistas. Eles não se importam com nossas cicatrizes em defesa da democracia, pois são os causadores delas.
A quadra histórica em que vivemos poderia ser intitulada com provérbios populares: Farinha pouca, meu pirão primeiro; Salva-se quem puder etc. É um retrato da crise estrutural do capitalismo que se aproxima. Ninguém sabe o que surgirá depois da ruptura, mas não teremos os atuais padrões monetários, como baliza comercial e meio de troca, quiça, as riquezas acumuladas se manterão reconhecidas.
O novo mundo que se desenha, entre os desfiliados e os mantenedores do sistema que se encerra, poderia desembocar numa sociedade mais justa se os superricos cedessem. Mas não há essa intenção. O crescimento dos movimentos chamados ultra-direita ou nova-direita nada mais são do quem uma tentativa desesperada de proteger e impor o reconhecimento a um acúmulo de riqueza que se ora fosse trocada a economia teria que fornecer 10 vezes mais o volume de produtos existentes, tamanho o excesso de liquidez (renda e meios de troca) mundial.
Nesse novo mundo, complexificado pelas tecnologias, em que é decrescente a massa salarial e, respectivamente, o consumo a longo prazo, os capitalistas não encontram porto seguro para aportar a renda; ou obter garantias sólidas para emprestar aos governos. Condições semelhantes levaram o mundo a duas grandes guerras mundiais. E, estamos, na porta da terceira. As guerras são para os grandes capitalistas o meio mais rápido de “queimar” capitais e enxugar a liquidez de maneira a prolongar os sinais vitais do sistema. Já os ricos de países periféricos, como o Brasil, buscam protagonismo e têm pressa na entrega dos recursos naturais e de mão-de-obra barata antes do debacle. Os países que têm o Estado mais organizado – com regras para exploração de recursos e garantias de direitos aos trabalhadores – são os mais tensionados pela ultra-direita que prescinde do Estado de Bem-Estar Social e busca impor um Estado apenas garantidor da ordem social, sem proteção dos mais fracos e sem indução da economia: um Estado do tipo: “quem pode mais, chora menos”. Em outras palavras uma volta ao estado pré-capitalista. Não por acaso, há moda em terra-planismo e uma efusiva febre esotérica anti-científica, como embasamento de uma moral perversa e fascista.
Patrimonialismo e Fascismo
O que surpreende não é a presença do fascismo, sempre latente na sociedade brasileira. O que espanta são os inúmeros brasileiros que aderem ao pensamento fascista, Por que? É coerente que as dezenas bilionários acossados pela presença oceânica da miséria que os circunda sejam partícipes, direta ou indiretamente, por omissão, do massacre e da retirada de direitos e do acesso à educação dos pobres (via Estado, milicianos ou mercenários). É possível que os milhares de milionários, por laços financeiros aos superricos, também adiram à necropolítica. O incoerente são as famílias com renda mensal de 5 a 10 (ou de 10 a 20) salários mínimos ou os próprios pobres admitirem o massacre social dos indesejáveis. Por que?
O patrimonialismo, como conceito weberiano, transformou-se no Brasil em uma meta. É latente um desejo de desfrute dos recursos do estado, como ora se vê no governo do Bolsonaro. Persiste, no fundo, a ideia de que o Estado brasileiro existe para servir à deselite* e não ao povo brasileiro. As ações dos dolarizados Paulo Guedes e do Campos Neto, na condução da economia brasileira, a comercialização de princípios da democracia em troca de recursos públicos via emendas secretas (sic) pelos líderes do Legislativo e as acovardadas decisões do Supremo Tribunal Federal revelam que o combate à corrupção sempre foi, na verdade, um pretexto para afastar a esquerda do poder. As manifestações dos anos 10, desse milênio, – em diversos países – tiveram assento em insatisfações decorrentes das primeiras ondas da crise econômica capitalista. A novidade das redes sociais serviu para ampliar e desqualificar a leitura das contradições ora latantes. Os insatisfeitos foram tolhidos da verificação dos fatos – “fenômeno” que chega aos dias atuais. A ilusão em que as multidões estão embrenhadas tem origem diversa. As razões não amadurecem, naturalmente, sem que as condições lhe permitam. É mais rápido iludir o povo com promessas de prêmios de falsos profetas e amedrontá-lo com bichos-papões do que lhes dar consciência e abrir os olhos sobre a realidade que vivem e que podem construir, se quiseram se libertar. Por isso, o trabalho da educar é mais difícil do que o de enganar.
Post Script: os embustes que assistimos propalados pelos Bannons da quadra histórica foram orquestradas por artífices da inteligência americana e ocorreram apenas contra os governos que não chancelavam o domínio norte-americano. Funcionarão, episodicamente, pois, dificilmente, vão evitar a catástrofe sistêmica que se avizinha.
Post Script 2: é provável que em 5 anos, os garotos pobres e filhos da classe média, ora, com 13 ou 14 anos, estejam de uniforme e de fuzil na mão lutando a guerra para preservar os valores acumulados dos bilionários.
*deselite – ter dinheiro não transforma ricos em melhores