Empresários priorizando preservar CNPJ’s às custas do CPF’s; A corretora XP calculando que o pico da contaminação por Coronavírus já não afeta mais as classes altas; Banqueiros que querem descontar o valor doado ao combate à pandemia do Imposto de Renda. A marcha provocativa ao Supremo Tribunal Federal liderada por Bolsonaro para pressionar o guardião da Constituição a atropelar a autonomia dos entes federativos. Não faltam exemplos de que a “deselite” brasileira não consegue enxergar uma saída republicana, democrática, ética, humana e civilizada para a crise sanitária e seus efeitos deletérios à economia.

O plano é coagir os trabalhadores a defenderem seus salários em troca da exposição ao novocoronavírus. Em um projeto de “imunização de rebanho” que se bem sucedido [sic] contaminará em poucos meses 120 milhões de pessoas, provocando a morte, na melhor das hipóteses, de cerca de um milhão de brasileiros. Essa projeção não é relevante aos olhos da XP, Roberto Campos Neto ou Paulo Guedes que insistem na ótica negacionista da gravidade do impacto da pandemia no Brasil, enquanto buscam o retorno à chamada pauta das ‘Reformas Estruturantes” como forma de retomada econômica, e contam com “escudo” Bolsonaro para tirar as pessoas do isolamento social.
Economia de Guerra
Seguem queimando as reservas sem ver o óbvio: estamos numa economia de Guerra. Apesar da aprovação do orçamento no Congresso Nacional, a equipe econômica ainda não planejou como sustentar esse período (a não ser ampliando o déficit público). É sabido que de todas as alternativas para racionalizar o consumo durante as guerras, para ampliar a poupança e evitar a inflação só há um caminho menos doloroso: um vigoroso aumento de impostos (p. ex. Keynes). E como não existe na realidade, atual, emprego para taxar a folha de pagamento, nem rendimentos provenientes da classe média, o óbvio é taxar as grandes fortunas.
Não há garantia que o fim do isolamento social e da quarentena irá garantir a retomada do consumo e da economia; a recessão mundial e os custos da Guerra irão se encarregar de matar todos os CNPJ’s incompetentes, se não houver um aumento de impostos para financiar a retomada. Não terão efeito, hoje, as chamadas Reformas Estruturantes.
Salvação da economia perversa
A crise pode ser uma oportunidade para desconstruir os mecanismos de uma economia que a cada giro aumenta a riqueza dos ricos e a pobreza dos pobres. Isso, se houvesse um pensamento sobre Economia Política. Contudo, vivemos da fé na Política Econômica que enfatiza os ganhos financeiros, desestimula a inovação, desindustrializa os setores de valor agregado e pretende um Estado sem proeminência econômica.
É provável que no final da pandemia, além de contar seus mortos, os CPF’s percebam que não há motivos para salvar CNPJ’s que só aprofundam a desigualdade.
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